No último dia 8 de Julho, recordamos os 53 anos do martírio de Ghassan Kanafani. Ele foi um escritor, jornalista, dirigente político, militante da causa palestina e intelectual marxista de primeira grandeza, assassinado cruelmente pelo terrorismo judaico sionista em Beirute, no Líbano, em 1972. Temos o hábito de lembrar a data do martírio e não a do aniversário de Ghassan Kanafani, em respeito a um posicionamento dele próprio. Kanafani nasceu em 9 de Abril de 1936, em Akka, no litoral norte da Palestina e quando completou 12 anos de idade, em 1948, essa mesma data ficaria marcada pelo massacre horrendo da aldeia palestina de Deir Yassin por forças colonizadoras judaico sionistas. O massacre em questão já fazia parte dos preparativos sionistas para a Nakba, a grande catástrofe planejada contra o povo palestino que resultou na expulsão forçada de mais da metade da população originária de seu território milenar. A partir daquele dia, Kanafani decidiu por nunca mais comemorar o seu aniversário em respeito às vítimas de Deir Yassin. Hoje, provavelmente, já não exista nenhuma data do calendário que não possa ser associada a um massacre ou assassinato de palestinos, por parte de Israel.
Ghassan Kanafani redigiu um conto intitulado “Muros de Ferro”. Neste, desenvolve o enredo em torno de uma criança pequena que ganha de presente um pássaro selvagem em uma gaiola. O pássaro não aceita sua condição de prisioneiro e, permanentemente, se debate contra gaiola. A angústia da criança diante da situação, que teme que o pássaro se machuque gravemente, é descrita pelo seu irmão do meio, o narrador do conto, que deseja que o menor decida por conta própria libertar o pássaro daquele sofrimento. Apesar do desenvolvimento do texto dar-se, fundamentalmente, sobre a criança pequena (irmão mais novo), na verdade, o irmão mais velho é o personagem principal. O conto todo é construído para uma única cena chave, no qual o pássaro para de se machucar e se debater contra gaiola e aceita sua condição de prisioneiro. Acarretando o fim do sofrimento e a alegria da criança pequena, ao mesmo tempo que satisfaz seu irmão do meio. É neste momento que o personagem principal (o irmão mais velho), que pouco aparece no conto, aproxima-se, olha o pássaro resignado e diz: “Ele acaba de morrer!”
Aceitar a condição de prisioneiro da colonização judaica sionista é já estar morto. Mais… só está vivo quem luta pela libertação. Este é o significado do conto de Ghassan Kanafani. Passado 53 anos, o povo palestino compreende exatamente o fardo que significa lutar por sua existência, território, dignidade… e nunca se resignar. Lutar pela causa palestina é honrar o legado de muitos lutadores e lutadoras, incluindo o de Ghassan Kanafani. É, essencialmente, compreender que, para os explorados e oprimidos, a transformação social só é possível pela luta… só a luta liberta, só a luta transforma!
Viva o legado de Ghassan Kanafani!
Viva a luta do povo palestino!
Yasser Jamil Fayad –
Médico pediatra e infectologista, poeta, escritor e coordenador do Movimento pela Libertação da Palestina – Ghassan Kanafani.