Onde está o sujeito revolucionário? Em Gaza.

Onde está o sujeito revolucionário? Em Gaza.

Por Yasser Jamil Fayad.

A tradição marxista vem discutindo, nas últimas décadas, as mudanças na morfologia do mundo do trabalho e suas repercussões no campo da política. Já são bastante conhecidos entre nós os trabalhos e os intelectuais, que apontam essa transformação da classe trabalhadora e suas consequências para a luta de classes. Vale ressaltar, aqui, no caso brasileiro, os trabalhos do nosso camarada Prof. Ricardo Antunes e de seu grupo, sobre o impacto das novas relações capital/trabalho e das características desta nova morfologia da classe trabalhadora. 

Neste sentido, a percepção de que a velha classe trabalhadora industrial da Era fordista aglutinada em grandes fábricas, vivendo em bairros e vilas operárias comuns e organizando-se no sindicato tradicional não está mais em nosso horizonte comum. O que significa reavaliar os instrumentos de luta construídos no passado que perderam muito sua capacidade de aglutinação, multiplicação e formação de outrora. Estas constatações não tem absolutamente nenhuma relação com a tese do “fim do trabalho” e, por conseguinte, do “fim da História”. A contradição central do sistema capitalista continua sendo entre o capital e o trabalho, a classe trabalhadora não deixou de existir (mudou sua forma) e a necessidade de instrumentos capazes de dar conta destas mudanças se torna mais urgente para aqueles que têm a perspectiva de uma revolução socialista. Uma classe trabalhadora mais heterogênea em sua composição e com maior dificuldade de “enxergar/ acessar conscientemente” sua condição coletiva de classe, submersa na ideologia dominante individualista do empreendedor de si mesmo/ colaborador da empresa/ etc. remetida à falsa premissa de disputa concorrencial entre os trabalhadores.

O que este debate tem a ver com a questão da Palestina? 

A Faixa de Gaza não conhece nenhuma grande burguesia, nem sequer algum setor dela (comercial, bancária, industrial, etc.). Sua população é fundamentalmente composta de refugiados das várias ondas de expulsão promovidas pelo colonialismo judaico sionista, na Palestina. Mais do que isto, sua população é majoritariamente pertencente a classe que vive do trabalho.

Para além da classe em si, o que vimos na Faixa de Gaza, durante esses mais de 500 dias de genocídio foi a expressão, por parte dos palestinos, da firmeza e convicção de seu projeto de luta revolucionária anticolonialista e por libertação nacional. Um povo, hegemonizado por sua classe trabalhadora, com clareza política de quem são seus inimigos e aliados decidiu “viver lutando” ou “morrer tentando” a libertação de seu território milenar. 

Para aqueles que acharam que era o “fim da história”… o “fim da classe trabalhadora”…mais uma vez a velha toupeira reaparece (figura da “Revolução” em Marx). Onde está o sujeito revolucionário do nosso tempo? Em Gaza, na classe trabalhadora palestina.

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