13 de novembro de 1974
Yasser  Arafat  (1929-2004)  foi  o  presidente  da  OLP-  Organização  para  a  Libertação  da  Palestina  e  líder  da  Autoridade  Palestina.  Também  foi  líder  do  Fatah,  facção  majoritária  da OLP.  Nasceu  com  o  nome  Mohammed  Abdel  Rahman  Abdel  Raouf  Arafat  al-Qudwa  al-Husseini. Era filho de um comerciante. Não há registros corretos sobre o local de nascimento,  mas especula-se que foi em Jerusalém. Estudou engenharia entre os anos de 1952 e 1956 na  Universidade do Cairo. Lá, tornou-se presidente da União dos Estudantes Palestinos. Em 1956,  fundou  o  Al  Fatah,  grupo  que  pregava  a  luta  armada. A  partir  de  1964,  fez  parte  da  Organização  da  Palestina  (OLP),  da  qual  se  tornou  presidente  em  1966.  Criou  o  quartel  general da OLP em Beirute, mas com a criminosa invasão do Líbano pelas forças terroristas de  Israel foi obrigado a mudar para a Tunísia, em 1982. Assinou o acordo de paz de Oslo, tido pelas  organizações  de  várias  matizes  da  luta  palestina  como  uma  vergonhosa  capitulação. Ganhou  o  Prêmio  Nobel  da  Paz  em  1994.  Em  1996,  foi  eleito  presidente  da  Autoridade  Nacional  Palestina.  Assassinado  em  2004,  vítima  de  falência  múltipla  dos  órgãos  por  envenenamento, numa ação criminosa do serviço secreto sionista.
 
Discurso: 
Em nome do povo da Palestina e da liderança da luta nacional, a Organização para a Libertação da Palestina, quero nesta oportunidade parabenizar o senhor presidente, pela sua eleição à presidência da 29ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas.
Há muito o conhecemos por ser um defensor sincero e devotado da causa da liberdade, justiça e paz. Todos o conhecemos também por estar na vanguarda dos defensores da liberdade em sua heroica guerra de libertação nacional da Argélia. Hoje a Argélia atingiu o eminente posto entre a comunidade mundial e assumiu suas responsabilidades nas esferas nacional e internacional, obtendo assim o apoio e estima de toda a família humana.
Quero também aproveitar esta oportunidade para oferecer meu sincero  apreço  ao  Sr.  Kurt  Waldheim,  secretário  geral  das  Nações  Unidas,  pelos grandes  esforços  que  fez  e  continua  a  fazer  no  sentido  de  que  possamos assumir nossas responsabilidades o mais facilmente possível. 
  
Em nome do povo da Palestina, quero aproveitar esta oportunidade para parabenizar três estados que foram recentemente admitidos como membros das Nações Unidas após obterem a sua independência nacional: Guiné-Bissau, Bangladesh e Granada. Ofereço os nossos mais sinceros votos aos líderes desses Estados e desejo a eles progresso e sucesso.
Sr. presidente, agradeço o convite feito a Organização para a Libertação da Palestina para participar nas sessões plenárias da Assembleia Geral das Nações Unidas. Agradeço a todos os representantes de Estado das Nações Unidas que contribuíram com a decisão de introduzira “Questão da Palestina” como um item separado da agenda desta Assembleia. Essa decisão tornou possível a resolução da Assembleia de nos convidar para discutirmos sobre a “Questão da Palestina”.
Esta é uma ocasião muito importante. A “Questão da Palestina” está sendo reexaminada pelas Nações Unidas e consideramos esse passo uma vitória à causa do nosso povo. Isso indica mais uma vez que as Nações Unidas hoje não são as Nações Unidas do passado, assim como o mundo hoje não é o mundo de ontem. Hoje, as Nações Unidas representam 138 nações, um número que reflete mais claramente o desejo da comunidade internacional. Assim, as Nações Unidas de hoje estão mais qualificadas para implementar os 3 princípios incorporados em sua Carta Régia e na Declaração Universal do Direitos Humanos, assim como estão mais verdadeiramente habilitadas a apoiar as causas de paz e justiça.
O nosso povo está começando a sentir essa mudança. Juntamente com o povo da Ásia, África e América Latina, que tambéma sente. Como resultado, as Nações Unidas adquirem maior estima na visão do nosso povo e na visão de outros povos. A nossa esperança é a de que, assim fortalecida, as Nações Unidas possam contribuir ativamente na busca e triunfo da causa, da paz, justiça, liberdade e independência. A nossa resolução em construir um mundo novo está fortalecida – um mundo livre do colonialismo, imperialismo, neocolonialismo e racismo em cada uma das instâncias, inclusive o sionismo.
Nosso mundo aspira à paz, justiça, igualdade e liberdade. Deseja que as nações oprimidas, que atualmente se curvam sob o peso do poder imperialista, obtenham sua liberdade e seu direito à autodeterminação. Espera colocar as relações entre as nações em base de igualdade, coexistência pacífica, mútuo respeito pelos assuntos internos de cada um, soberania nacional segura, independência e unidade territorial baseada na justiça e benefício mútuo. Este mundo decide que os laços econômicos que o mantêm unido deveriam ser baseados na justiça, paridade e interesse mútuo. Aspira finalmente dirigir seus recursos contra os açoites da pobreza, a fome, a doença e as calamidades naturais, para o desenvolvimento das capacidades produtivas científicas e técnicas acentuando a riqueza humana, tudo isso na esperança de reduzir a disparidade entre os países em desenvolvimento e os desenvolvidos. Mas tais aspirações não podem ser num mundo que é dominado atualmente por tensão, injustiça, opressão, discriminação racial e exploração, um mundo também ameaçado por desastres econômicos intermináveis, guerras e crises.
Um grande número de povos, inclusive os povos do Zimbábue, Namíbia, África do Sul e Palestina, entre muitos outros, ainda são vítimas da opressão e da violência. Seus territórios estão dominados por lutas armadas provocadas pelo imperialismo e pela discriminação racial, ambas com meras formas de agressão e terror. Esses são exemplos de povos oprimidos compelidos por circunstâncias intoleráveis a um confronto com tal opressão. Mas onde quer que esse confronto ocorra, é legítimo e justo.
É imperativo que a comunidade internacional apoie esses povos em sua luta, para avanço das suas causas legítimas e na obtenção do seu direito à autodeterminação.
Na  Indochina,  os  povos  ainda  estão  expostos  a  agressão.  Eles permanecem sujeitos a conspirações que os impedem de gozar  da paz e da realização  de  seus  objetivos.  Embora  os  povos  em  toda  a  parte  tenham aceitado os acordos de paz obtidos no Laos e no Vietnã do Sul, ninguém pode  dizer que a paz genuína tenha sido atingida, nem que as forças responsáveis pelo início da agressão tenham desistido de seus ataques ao Vietnã. O mesmo pode ser dito da atual agressão militar contra o povo do Camboja. É, portanto,  responsabilidade da comunidade internacional apoiar esses povos oprimidos, e  também  condenar  os  opressores  por  seus  planos  contra  a  paz.  Além  disso,  apesar da posição positiva tomada pela República Democrática da Coréia com  relação  a  uma  solução  pacífica  e  justa  da  Questão  coreana,  ainda  não  se  chegou a uma decisão para essa questão. 
  
Alguns meses atrás o problema de Chipre irrompeu violentamente diante  de nós. Povos em toda a parte compartilharam o sofrimento dos cipriotas. Nós  solicitamos  que  as  Nações  Unidas  continuem  os  seus  esforços  em  alcançar uma  solução  justa  em  Chipre,  desse  modo  poupando  os cipriotas  de  uma guerra  adicional,  garantindo-lhes  a  paz  e  a  independência.  Indubitavelmente,  entretanto,  qualquer  consideração  da  Questão  cipriota  está  contida  nos  problemas do Oriente Médio, bem como nos problemas do Mediterrâneo. 
  
Nos  seus  esforços  para  substituir  um  sistema  econômico  mundial  obsoleto,  mas  ainda  dominante,  por  um  novo,  mais  logicamente  racional,  os  países da Ásia, África e América Latina devem, entretanto, enfrentar ataques  implacáveis  a  esses  esforços.  Esses  países  expressaram  as  suas  próprias  opiniões em uma sessão especial da Assembleia Geral sobre matérias-primas e desenvolvimento. Por conseguinte, o saque, a exploração, o escoamento das  riquezas de povos empobrecidos deve ser encerrado imediatamente. Não deve  haver nenhum impedimento aos esforços desses povos para se desenvolverem e controlarem as suas riquezas. Ademais, é extremamente necessário chegar a  preços justos para as matérias primas desses países. 
  
Além disso, esses países continuam a enfrentar obstáculos para atingir  os seus objetivos primários formulados na Conferência sobre o Direito do Mar,  em Caracas, na Conferência da População e na Conferência sobre o Alimento,  em  Roma.  As  Nações  Unidas  deveriam,  portanto,  envidar  todos  os  esforços  para  se  atingir  uma  alteração  radical  do  sistema  econômico  mundial,  viabilizando  que  os  países  em  desenvolvimento  se  desenvolvam.  As  Nações  Unidas  devem  arcar  com  a  responsabilidade  de  lutar  contra  a  inflação,  que  atualmente  tem  sido  mais  fortemente  sentida  pelos  países  em  desenvolvimento, principalmente os países produtores de petróleo. As Nações  Unidas devem condenar firmemente quaisquer ameaças feitas a esses países pelo simples fato de exigirem os seus justos direitos. 
 
A corrida armamentista mundial não mostra nenhum sinal de redução. E,  por  conseguinte,  o  mundo  está  sendo  ameaçado  de  dispersão  de  suas riquezas e de completo desperdício de suas energias. A violência armada se torna  mais  provável  em  toda  parte.  Esperamos  que  as Nações  Unidas se devotem  de  forma  determinada  a  frear  a  aquisição  ilimitada  de  armas;  prevenindo até mesmo a possibilidade de uma destruição nuclear; reduzindo as vastas somas despendidas em tecnologia; convertendo os gastos de guerra em  projetos  de  desenvolvimento  que  aumentem  a  produção a  beneficiem  a  humanidade como um todo. 
 
E, ainda, a maior tensão do mundo está em nossa área. Lá, a entidade sionista  apega-se  tenazmente  aos  territórios  árabes ocupados;  o  sionismo  persiste em suas agressões contra nós e o nosso território. Novos preparativos militares estão sendo organizados febrilmente. Estes antecipam a quinta guerra de  agressão  a  ser  lançada  contra  nós.  Tais  sinais  requerem  a  mais  atenta  observação possível que, já que existe uma grande chance de que essa guerra seja um presságio de destruição nuclear e aniquilação cataclísmica. 
  
O mundo necessita de esforços tremendos para que se realizem as suas  aspirações de paz, liberdade, justiça, igualdade e  desenvolvimento para que a sua  luta  seja  vitoriosa  contra  o  colonialismo,  imperialismo,  neocolonialismo e racismo em  todas as suas formas,  inclusive  o  sionismo.  Somente  através  de tais  esforços  pode-se  dar  forma  às  aspirações  de  todos  os  povos,  inclusive  daqueles cujos Estados se opõem a tais esforços. Esse é o caminho que leva a  satisfação  dos  princípios  enfatizados  pela  Carta  das  Nações  Unidas  e  pela  Declaração  Universal  dos  Direitos  Humanos.  Entretanto,  se  o  status  quo for mantido,  o  mundo  ficará  exposto  a  prolongados  conflitos  armados,  além  de uma calamidade econômica, humana e natural. 
  
Apesar  de  enfrentar  crises  mundiais  e  mesmo  apesar dos  poderes retrógrados  desanimadores  e  de  erros  desastrosos,  vivemos  um  tempo de mudanças  gloriosas.  A  antiga  ordem  mundial  está  desmoronando  diante  dos nossos  olhos,  bem  como  o  imperialismo,  colonialismo,  neocolonialismo e racismo,  cuja forma mais avançada  é o  sionismo, perecem  indubitavelmente.  Somos privilegiados em poder testemunhar essas grande onda conduzindo os  povos adiante em direção a um novo mundo criado por eles mesmos. Naquele mundo as causas justas irão triunfar. Estamos certos disso. 
  
A “Questão Palestina” pertence a essa perspectiva de emergência e luta.  A  Palestina  é  crucial  dentre  as  causas  justas  pelas quais  as  massas  trabalhadoras, sob o imperialismo e a agressão, lutaram irrestritamente. Assim como  me  foi  dada  a  oportunidade  de  discursar  na  Assembleia  Geral,  esta  oportunidade também deve ser dada a todos os movimentos de libertação que  lutam contra o racismo e o imperialismo. Em seu nome e em nome de cada ser  humano  que  luta  por  liberdade  e  autodeterminação,  eu  apelo  para  que  a  Assembleia  Geral  urgentemente  conceda  a  mesma  atenção  às  suas  causas  justas.  Uma  vez  reconhecidas,  elas  criarão  uma  base sólida  para  a  preservação  da  paz.  Somente  com  a  paz  uma nova  ordem  mundial  resistirá,  uma  ordem  em  que  os  povos  possam  ser  livres  da  opressão,  do  medo,  do  terror e da supressão dos seus direitos. Como já disse anteriormente, é nessa  perspectiva  que  a  “Questão  da  Palestina”  deve  ser  estabelecida.  Irei  agora  fazê-lo  diante  da  Assembleia  Geral,  mantendo  firmemente  as  perspectivas  e  objetivos de uma ordem mundial. 
  
Mesmo quando hoje discursamos diante da Assembleia Geral, que é acima de tudo uma tribuna internacional, estamos também expressando nossa fé na luta política e diplomática como um complemento, um reforço da luta armada. Ademais, expressamos nosso agradecimento ao papel que as Nações Unidas são capazes de exercer para resolver problemas de alcance internacional. Mas essa capacidade, como disse a pouco, só se tornou real uma vez que as Nações Unidas se ajustaram à realidade de vida e à aspiração dos povos – únicas causas às quais uma organização de dimensão tão verdadeiramente internacional deve obrigação.
Ao discursar diante da Assembleia Geral, o nosso povo proclama a sua fé no futuro, desvencilhado de todas as tragédias do passado ou limitações do presente. Se, ao discutirmos o presente, incluímos o passado a nosso serviço, o fazemos apenas  para  iluminar  a  nossa  jornada em direção  a um futuro  ao lado  de  outros  movimentos  de  libertação  nacional.  Se  retornarmos  agora  nossas  raízes  históricas  da  nossa  causa,  o  fazemos  porque  neste  exato  momento  estão  entre  nós  aqueles  que,  enquanto  ocupam  as  nossas  casas, enquanto  o  seu  gado  pasta  em  nossos  campos  e  enquanto  as  suas  mãos  arrancam  os  frutos  das  nossas  árvores,  ao  mesmo  tempo  que  afirmam  que somos espíritos sem corpo, ficção sem presença, sem tradição ou futuro. Nós  também falamos de nossas raízes porque até recentemente algumas pessoas consideravam  e  continuam  a  considerar  o  nosso  problema  meramente  um problema de refugiados. Eles retratam a questão do  oriente médio como nada mais do que a disputa de fronteira entre Estados Árabes e a entidade sionista. Eles imaginam que o nosso povo exige direitos que não são legítimos e que não  lutam  com  lógica  ou  por  um  motivo  justo,  mas  pelo  simples  desejo  de perturbar a paz e aterrorizar desumanamente. Pois há dentre vocês – e aqui  me  refiro  aos  Estados  Unidos  da  América  e  seus  semelhantes  –  os  que abastecem livremente nossos inimigos com aviões e bombas e com todas as  variedades  de  armas  assassinas.  Eles  assumem  uma  posição  hostil  contra nós,  distorcendo  deliberadamente  a  verdadeira  essência  do  problema.  Tudo isso  é  feito  não  apenas  às  nossas  custas,  mas  também  às  custas  do  povo estadunidense,  e  da  amizade  que,  continuamos  esperançosos,  possa  ser cimentada  com  esse  grande  povo,  cuja  história  de  luta  pela  libertação honramos e saudamos. Não  posso  me  abster  nesta  oportunidade  de  apelar  diretamente  desta tribuna  ao  povo  estadunidense,  pedindo  que  dê  o  seu apoio  ao  nosso  povo heroico  e  lutador.  Eu  peço  sinceramente  para  endossar  o  direito  e  a  justiça,  recordando  George  Washington,  o  heroico  Washington  cujo  propósito  foi liberdade  e  independência  de  sua  nação;  Abraham  Lincoln,  o  campeão  dos destituídos e dos miseráveis, e também Woodrow Wilson, cuja doutrina dos “14  Pontos” é ainda aprovada e venerada por todos os povos. Eu pergunto ao povo estadunidense se as demonstrações de hostilidade e inimizade que acontecem  fora  desse  grande  salão  refletem  os  verdadeiros  propósitos  da  vontade  dos  Estados  Unidos?  O  que  eu  pergunto  claramente  a  vocês  é  qual  o  crime  do povo da Palestina contra o povo estadunidense? Por  que vocês estão lutando contra nós? Tal beligerância injustificada realmente serve aos seus interesses? Não,  definitivamente  não.  Eu  somente  espero  que  o  povo  estadunidense  se recorde de que sua amizade com toda a nação árabe é muito grande, muito  resistente e muito compensadora para que tais demonstrações a danifiquem. 
  
De  qualquer  maneira,  como  a  nossa  discussão  sobre a  “Questão  da  Palestina” focaliza as raízes históricas, nós o fazemos porque acreditamos que qualquer  questão  que  atinge  a  preocupação  mundial  deve  ser  vista radicalmente,  no  verdadeiro  sentido  da  palavra,  para  que  uma  solução  real possa ser alcançada. Propomos essa abordagem radical como antídoto a uma abordagem das questões internacionais que obscurecem as origens históricas por trás da ignorância, da negação e da obediência servil ao presente. 
  
As  raízes  da  Palestina  remontam  ao  final  do  século 19,  em  outras palavras, ao período que chamamos de colonialismo e assentamento, como o conhecemos  hoje.  Esse  é  precisamente  o  período  no  qual  o  sionismo  nasce como  sistema;  seu  objetivo  era  a  conquista  da  Palestina  por  imigrantes europeus,  assim  como  os  colonizadores  colonizaram  e,  de  fato,  atacaram a maior parte da África. Esse é o período no qual o colonialismo se derrama do Ocidente, espalhando-se nas regiões mais distantes da África, Ásia e América Latina,  estabelecendo  colônias  em  toda  parte,  explorando  impiedosamente,  oprimindo,  pilhando  esses  três  continentes.  Esse  período  persiste  até  o presente.  Uma  evidência  marcante  da  sua  presença  totalmente  repreensível pode  ser  facilmente  percebida  no  racismo  praticado  na  África  do  Sul  e  na  Palestina.  
  
Como o colonialismo e os seus demagogos dignificam as suas conquistas, os seus saques e os ataques ilimitados aos nativos da África com apelos de uma missão para “modernizar e civilizar”,assim também ondas de imigrantes sionistas encobriram seus objetivos enquanto conquistavam a Palestina.
Assim  como  o  colonialismo  como  sistema  e os  colonialistas  como seu instrumento usaram a religião, cor, raça e língua par justificar a exploração  dos africanos e a sua cruel submissão pelo terror e pela discriminação, esses  métodos  foram  também  empregados  enquanto  a  Palestina  era  usurpada  e  o  seu povo acossado em sua terra natal. Assim  como  o  colonialismo  negligentemente  usou  os  infelizes,  os pobres, os explorados como mera matéria inerte com  a qual iriam construir e dar  continuidade  ao  colonialismo  de  assentamento,  assim  também  os destituídos  e  oprimidos  judeus  da  Europa  foram  usados  em  nome  do imperialismo  global  e  da  liderança  sionista.  Os  judeus  europeus  foram transformados  em  instrumentos  de  agressão;  eles  se  tornaram elementos do colonialismo aliados intimamente à discriminação racial. 
  
A teologia sionista foi utilizada contra o nosso povo palestino; o objetivo  era  estabelecer  não  somente  um  colonialismo  ao  estilo  do  Ocidente,  mas também  separar  os  judeus  de  suas  várias  terras  natais  e  subsequentemente separá-los  de  suas  nações.  O  sionismo  é  uma  ideologia  imperialista, colonialista, racista, profundamente reacionária e discriminatória. Está unida ao antijudaísmo em seus princípios retrógrados e, após tudo que foi feito e dito, é o outro  lado  da  moeda,  porque  propõe  que  partidários  da  fé  judaica, independentemente  da  sua  residência  nacional,  não  devem  ser  fiéis  a  suas residências  nacionais  ou  viver  em  termos  de  igualdade  com  outros  cidadãos não  judeus.  Quando  isso  é  proposto,  nós  ouvimos  o  antijudaísmo  sendo proposto. Quando a única solução proposta para o problema é que os judeus devem  se  alienar  das  comunidades  ou  nações  das  quais  tem  sido  parte histórica,  quando  é  proposto  que  os  judeus  resolvam o  problema  judeu imigrando e forçosamente estabelecendo-se na terra de um outro povo, quando isso  ocorre,  está  sendo  defendida  exatamente  a  mesma  posição  que  foi  impulsionada pelo antijudaísmo contra os judeus. 
  
Dessa maneira, podemos entender a relação íntima entre Rhodes, que  propôs o colonialismo no Sudoeste da África, e Herlz, que estabeleceu planos de assentamento colonialista na Palestina. Tendo recebido certificado de boa conduta  em  assentamento  colonialista  de  Rhodes,  Herzl  entregou  esse certificado  ao  governo  britânico,  na  esperança  de  garantir  uma  resolução formal  que  apoiasse  a  política  sionista.  Em  contrapartida,  os  sionistas prometeram à Inglaterra uma base imperialista no solo palestino, para que os interesses  imperiais  pudessem  ser  protegidos  em  um  de  seus  pontos estratégicos mais importantes. 
  
Assim,  o  movimento  sionista  se  aliou  diretamente  com  o  colonialismo  mundial  atacando  em  conjunto  a nossa  terra.  Permitam-me agora apresentar uma seleção de verdades históricas sobre essa aliança. 
  
A  invasão  judaica  da  Palestina  se  iniciou  em  1881. Anteriormente  a chegada  da  primeira  grande  onda  de  imigrantes,  a  Palestina  tinha  uma população de meio milhão, a maior parte muçulmana ou cristã, e somente 20 mil professavam o judaísmo. Todos os segmentos da população gozavam de tolerância religiosa característica da nossa civilização. 
  
A Palestina era então uma terra verdejante, habitada em sua maioria por árabes construindo suas vidas e enriquecendo dinamicamente a cultura nativa. 
  
Entre 1882 e 1917, o movimento sionista assentou aproximadamente 50 mil judeus europeus na nossa terra natal. Recorreu a embustes e fraudes para  implantá-los entre nós. O sucesso com que conseguiu que a Inglaterra emitisse a Declaração de Balfour mais uma vez demonstrou a aliança entre o sionismo e o imperialismo. Além disso, ao se comprometer como movimento sionista de entregar o que não lhe pertencia, a Inglaterra mostrou o quanto opressiva é a regra do imperialismo. Como foi constituída, a Ligadas Nações abandonou o nosso  povo  árabe  e  as  garantias  e  promessas  oferecidas  por  Wilson  não resultaram em nada. Com a aparência de um mandato, o imperialismo britânico foi cruelmente e diretamente imposto a nós. O mandato editado pela Liga das Nações habilitava os invasores sionistas com a consolidação de seus ganhos em nossa terra natal. 
  
No  início  da  vigência  da  Declaração  de  Balfour  e  pelos  30  anos  que seguiram,  o  movimento  sionista  conseguiu,  em  parceria  com  seu  aliado imperialista, assentar mais judeus europeus nessa terra, usurpando assim as propriedades dos árabes palestinos. 
  
Em 1947, o número de judeus havia atingido 600 mil, e eles controlavam  6% da terra palestina arável. Esse número deve ser comparado à população de palestinos, que naquela época era de 1,250 milhão. 
  
Como  resultado  do  conluio  entre  poder  mandatário  e o  movimento  sionista, com o apoio de alguns países, a Assembleia Geral, nos princípios de sua história, aprovou uma recomendação para a divisão da nossa terra natal Palestina.  Isso  aconteceu  sob  uma  atmosfera  envenenada  com  ações questionáveis  e  uma  forte  pressão.  A  Assembleia  Geral  separou  o  que  não tinha  direito  de  separar,  uma  terra  natal  indivisível.  Quando  rejeitamos  essa decisão, a nossa posição correspondeu à mãe que se  recusou a permitir que Salomão  cortasse  o  seu  filho  em  dois,  quando  a  mãe  não  biológica  exigia  a criança  para  si  concordando  com  esse  desmembramento.  Além  disso,  tendo essa  divisão  garantindo  colonialistas  54%  da  terra  Palestina,  o  seu descontentamento com a decisão os levou a travar uma guerra de terror contra a população  civil  árabe.  Eles  ocuparam  81%  da  área  total  da  Palestina, desarraigando  um  milhão  de  árabes.  Assim  eles  ocuparam  524  cidades  e  vilarejos árabes, dos quais 385 foram completamente destruídos. Uma vez feito  isso, construíram os seus próprios assentamentos e  colônias sobre as ruínas de  nossas  fazendas  e  bosques.  As  raízes  da  “Questão Palestina” residem  nisso. As suas causas não vêm de nenhum conflito entre duas religiões e dois nacionalismos. Também não é um conflito de fronteira entre Estados vizinhos. É  a  causa  de  um  povo  privado  de  sua  terra  natal,  disperso  e  desarraigado, vivendo principalmente em exílio e em campos de refugiados. 
  
Com o apoio dos poderes imperialistas e colonialistas, Israel conseguiu ser aceito como membro das Nações Unidas. Além disso, conseguiu suprimir a “Questão  da  Palestina”  da  agenda  das  Nações  Unidas  e  enganar  a  opinião pública mundial ao apresentar a nossa causa como um problema de refugiados que necessitam da caridade de benfeitores, ou assentados em terra que não lhes pertence. 
  
Não  satisfeitos  com  tudo  isso,  a  entidade  racista,fundada  no  conceito imperialista-colonialista, tornou-se uma base do imperialismo e um arsenal de armas.  Isso  permitiu  que  assumisse  o  papel  de  subjugar  o  povo  árabe,  para satisfazer  as  suas  ambições  de  expansão  na  Palestina  e  em  outras  terras árabes.  Além  disso,  nas  varias  situações  de  violência  cometidas  contra  os Estados  árabes,  essa  entidade  lançou  duas  guerras  de  grandes  proporções, em 1956 e 1967, ameaçando a paz e segurança mundiais. 
  
Como  resultado  da  violência  sionista,  em  junho  de  1967,  o  inimigo  ocupou o Sinai egípcio até o Canal de Suez. O inimigo ocupou as colinas de Golã, na Síria, além de terras da Palestina a oeste da Jordânia. Todos esses  desenvolvimentos  levaram  à  criação  na  nossa  área  do que  veio  a  ser  conhecido como o “problema do Oriente Médio”. Essa  situação tornou-se mais séria  devido  à  persistência  do  inimigo  em  manter  a  sua  ocupação  ilegal, estabelecendo uma ponte para a penetração do imperialismo mundial contra as nações  árabes.  Todas  as  decisões  do  Conselho  de  Segurança  e  apelos  da opinião pública mundial para que se retirassem das  terras ocupadas em junho de  1967  foram  ignoradas.  Apesar  de  todos  os  esforços  de  paz  em  nível internacional, o inimigo não foi detido em suas políticas expansionistas. A única alternativa  das  nações  árabes,  especialmente  o  Egito  e  a  Síria,  foi  investir esforços exaustivos na preparação da resistência à  bárbara invasão armada – isso para liberar as terras árabes e restaurar os direitos do povo palestino, após os esforços de paz terem falhado. 
  
Sob essas circunstâncias, a quarta guerra irrompeu em outubro de 1973,  trazendo ao inimigo sionista a falência de sua política de ocupação e expansão e de sua confiança no conceito de poder militar. Além do mais, os líderes da entidade  sionista  estão  longe  de  ter  aprendido  qualquer  lição  da  sua experiência. Estão se preparando para a quinta guerra, recorrendo mais uma vez  à  linguagem  de  superioridade,  agressão,  terrorismo,  submissão  militar e recorrendo à guerra em suas negociações com os árabes. 
  
É muito doloroso para o nosso povo testemunhar a propaganda do mito de  que  a  sua  terra  natal  era  um  deserto  até  que  com a  labuta  dos  colonos estrangeiros  desabrochou,  que  era  uma  terra  sem  povo  e  que  a  entidade colonialista não causou dano a nenhum ser humano. Não, tais mentiras devem ser reveladas nesta tribuna, porque o mundo deve saber que a Palestina era o berço  de  uma  das  mais  antigas  culturas  e  civilizações.  O  seu  povo  árabe plantava e construía, espalhando cultura por toda aterra por milhares de anos,  sendo  um  exemplo  na  prática  da  liberdade  religiosa, agindo  como  guardiões fiéis dos locais sagrados de todas as religiões. Como filho de Jerusalém, eu e meu povo cultuamos belas memórias e imagens vívidas da irmandade religiosa que  era  símbolo  da  nossa  Cidade  Santa  antes  de  sucumbir  à  catástrofe.  O nosso povo continuou a seguir essa política iluminada até o estabelecimento do Estado de Israel e a sua dispersão. Isso não impediu o nosso povo de buscar um papel humanitário em solo palestino. Nem este irá permitir que a sua terra se  torne  uma  plataforma  de  lançamento  da  agressão  ou  um  campo  racista  previsto na destruição da civilização, das culturas, do progresso e da paz. O nosso  povo  nada  pode  senão  manter  a  herança  de  seus antepassados  ao resistir aos invasores, assumindo a tarefa privilegiada de defesa da sua terra nativa, a sua nação árabe, a sua cultura e civilização, e em preservar o berço  da religião monoteísta. 
  
Apenas  devemos  mencionar  alguns  apoios  de  Israel:  o  seu  apoio  à  organização militar secreta na Argélia, o seu apoio aos colonialistas na África – no Congo, Angola, Moçambique, Zimbábue, Azânia ou África do Sul – e seu apoio  ao  Vietnã  do  Sul  contra  a  revolução  vietnamita.  Além  disso,  podemos mencionar o contínuo apoio de Israel a imperialistas e racistas em toda parte, a sua defesa obstrucionista no Comitê dos 24, a sua recusa em votar a favor da independência  dos  Estados  Africanos,  e  a  sua  oposição  às  demandas de muitas nações asiáticas, africanas e latino-americanas, e vários outros Estados na conferência sobre matérias-primas, população, a lei do mar e alimento. Tais fatores  oferecem  prova  adicional  do  caráter  do  inimigo  que  usurpou  a  nossa terra.  Eles  justificam  a  honrosa  luta  que  travamos. Enquanto  defendemos a visão do futuro, nosso inimigo defende mitos do passado.  
  
O  inimigo  que  enfrentamos  tem  uma  longa  tradição  de  hostilidade  até mesmo contra os próprios judeus, pois existe na entidade sionista um racismo incorporado contra os orientais judeus. Enquanto condenamos veementemente os  massacres  dos  judeus  sob  o  regime  nazista,  a  liderança  sionista  naquele período parecia mais interessada em explorá-la da melhor maneira possível no sentido de realizar o seu objetivo de imigração para a Palestina. 
  
Se  a  imigração  dos  judeus  para  a  Palestina  tivesse tido  o  objetivo  de habilitá-los  a  viver  lado  a  lado  conosco,  gozando  dos  mesmos  direitos  e garantindo os mesmos deveres, teríamos aberto nossas portas para eles, tanto quanto  a  nossa  terra  natal  permitisse.  Tal  foi  o  caso  com  os  milhares de armênios  e  circassianos  que  ainda  vivem  entre  nós  em  igualdade.  Mas o objetivo dessa imigração era de usurpar nossa terra, dispensar nosso povo, e nos  tornar  cidadãos  de  segunda  classe;  ninguém  pode exigir  que  com  isso concordemos  ou  nos  submetemos.  Portanto,  desde  o  seu  início,  nossa revolução  não  tem  sido  motivada  por  fatores  raciais ou  religiosos.  O  seu objetivo  nunca  foi  os  judeus,  como  pessoas,  mas  o  racismo  sionista  e  a violência  sem  disfarce.  Nesse  sentido,  a  nossa  revolução  é  também  para judeus,  como  seres  humanos.  Lutamos  para  que  judeus,  cristãos  e muçulmanos  possam  viver  igualdade,  gozando  os  mesmos  direitos e assumindo  as  mesmas  responsabilidades,  livres  da  discriminação  racial  e  religiosa. 
  
Nós entendemos a diferença entre o judaísmo e o sionismo. Ao mesmo  tempo  em  que  mantemos  nossa  posição  contra  o  movimento  colonialista, sionista, respeitamos a fé judaica. Hoje, quase um  século depois do despontar do  movimento  sionista,  desejamos  preveni-los  do  crescente  perigo  para  os judeus do mundo, para o nosso povo árabe e para a paz e segurança mundial. O  sionismo  estimula  os  judeus  a  migrarem  para  fora  de  sua  terra  natal e concede a  eles  a  nacionalidade  criada  artificialmente.  Os  sionistas  procedem com suas atividades terroristas mesmo tendo sido provado que são ineficazes. O fenômeno de emigração constante de Israel, que tenderá a crescer enquanto os  baluartes  do  colonialismo  e  racismo  no  mundo  caem,  é  um  exemplo  na  inevitabilidade do fracasso de tais atividades. 
  
Nós  exortamos  o  povo  e  os  governos  do  mundo  a  adotarem  uma  posição firme contra tentativas do sionismo de estimular os judeus a emigrarem dos seus países e usurparem a nossa terra. Nós exortamos a opor firmemente qualquer discriminação contra qualquer ser humano, religião, raça ou cor. 
  
Por que o povo árabe-palestino deve pagar o preço de tal discriminação no mundo? Por que o nosso povo deveria ser responsável pelos problemas da  imigração dos judeus, se tais problemas existem na  mente de certas pessoas? Por que os que apoiam tais problemas não abrem seus países, para absorver e  ajudar esses imigrantes? 
  
Os que nos chamam de terroristas desejam evitar que a opinião pública  mundial descubra a verdade sobre nós e que vejam a justiça em nossas faces. Eles procuram mascarar o terrorismo e a tirania de seus atos, e a nossa própria postura de autodefesa. 
  
A diferença entre o revolucionário e o terrorista reside na razão pela qual  cada  um  deles  luta.  Quem  quer  que  defenda  uma  causa justa  e  lute  por liberdade  e  liberação  de  sua  terra  dos  invasores,  os  assentados  e  os colonialistas, não pode de maneira nenhuma ser chamado terrorista, senão o povo  estadunidense  na  sua  luta  para  se  libertar  dos colonialistas  britânicos teriam  sido  terroristas;  a  resistência  europeia  contra  os  nazistas  seria terrorismo,  a  luta  dos  povos  asiáticos,  africanos  e latino-americanos  também seria  terrorismo,  e  muitos  de  vocês  que  estão  nesta Assembleia  seriam considerados  terroristas.  Essa  é  na  verdade  uma  luta  justa  e  apropriada consagrada  pela  carta  das  Nações  Unidas  e  pela  Declaração  Universal dos Direitos  Humanos.  E  para  os  que  lutam  contra  essas  causas  justas,  aqueles que declaram guerra para ocupar, colonizar e oprimir outros povos, esses são os terroristas. Esses são os que deveriam ter as suas ações condenadas, que  deveriam  ser  chamados  de  criminosos  de  guerra,  porque  a  justiça  da  causa determina o direito da luta.  
  
O  terrorismo  sionista  que  foi  lançado  contra  o  povo  palestino  para  despejá-lo de seu próprio país e usurpar a sua terra está registrado em nossos documentos  oficiais.  Milhares  do  nosso  povo  foram  assassinados  em  seus vilarejos e cidades, dezenas de milhares foram forçados sob mira de uma arma a abandonar as suas casas e a terra de seus pais. Repetidas vezes as nossas crianças,  mulheres,  idosos  foram  despejados  e  tiveram  que  perambular  nos desertos,  escalar  montanhas,  sem  alimento  ou  água.  Ninguém  que  tenha testemunhado  em  1948  a  catástrofe  que  aconteceu  com os  habitantes  de centenas  de  vilarejos  e  cidades  em  Jerusalém,  Harta,  Lydda,  Ramalá e Galiléia,  ninguém  que  tenha  sido  testemunha  dessa  catástrofe  irá  jamais esquecer  essa  experiência,  mesmo  que  o  imenso  blackout tenha  sido  bem sucedido em ocultar esses horrores, e tenha conseguido esconder os traços de 385 vilarejos e cidades palestinas destruídos no período e apagado do mapa. A destruição  de  19  mil  casas  nos  últimos  sete  anos,  equivale  à  completa destruição  de  mais  de  200  vilarejos  palestinos,  e  um  grande  numero  de mutilados como resultado do tratamento a que foram  submetidos nas prisões  israelenses não pode ser ocultado por nenhum blackout. 
  
O  seu  terrorismo  alimentou  o  ódio  e  esse  ódio  foi dirigido  até  mesmo  contra as oliveiras em meu país, que sempre foram um símbolo de orgulho e que nos lembravam dos habitantes nativos da terra, um lembrete vivo de que a terra é palestina – isso os impulsionou a destruí-las. Como se pode descrever a afirmação de Golda Meir, que expressou a sua inquietação sobre “as crianças palestinas  que  nascem  todos  os  dias”.  Eles  veem  na  criança  palestina,  na árvore palestina, um inimigo que deve ser exterminado. Por dezenas de anos, os  sionistas  tem  assediado  os  nossos  líderes  culturais,  políticos,  sociais e artísticos,  aterrorizando-os  e  assassinando-os.  Eles  roubaram  nossa  herança cultural, nosso folclore popular e os reivindicaram como seus. O seu terrorismo atingiu  até  mesmo  nossos  locais  sagrados  na  nossa  adorada  pacífica Jerusalém.  Eles  se  empenharam  em  “desarabezá-la”  para  que  perca  o  seu caráter muçulmano e cristão, despejando os seus habitantes e anexando-a. 
  
Devo  citar  o  incêndio  da  Mesquita  Aksa  e  a  desfiguração  de  muitos monumentos  da  nossa  civilização,  que  têm  um  caráter histórico  e  religioso. Jerusalém,  com  sua  histórica  religiosa  e  seus  valores  espirituais,  é  uma testemunha  do  futuro.  É  a  prova  da  nossa  eterna  presença,  da  nossa civilização, dos nossos valores humanos. Não é de se surpreender, portanto,  que sob o seu céu tenham nascido as três religiões e que sob esse céu essas três  religiões  brilham  para  iluminar  a  espécie  humana,  para  que  possa expressar as tribulações e as esperanças da humanidade, podendo determinar,  com a sua esperança, o caminho para o futuro.  
  
Um  pequeno  número  de  árabes  palestinos  que  não  foram  arrancados pelos sionistas em 1948 são refugiados no momento em sua própria terra natal. A lei Israelense os trata como cidadãos de segunda classe e até mesmo como cidadãos de terceira classe, uma vez que os judeus  orientais são os cidadãos de  segunda  classe  e  têm  sido  sujeitos  a  todo  tipo  de  discriminação  racial e terrorismo após o confisco de suas terras e propriedades. Eles foram vítimas de massacres sangrentos, tais como o de Kfar Kassim, foram expulsos de seus vilarejos e foi negado o seu direito a retornar, como o caso dos habitantes de Rait e Kfar-Birim. Por 26 anos, a nossa população vive sob lei marcial e tem sido  negada  a  liberdade  de  ir  e  vir  sem  permissão  prévia  do  governo  militar israelense.  Em  paralelo,  vive-se  um  momento  em  que  uma  lei  israelense foi promulgada  concedendo  cidadania  a  qualquer  judeu  em qualquer  parte  que queira  imigrar  para  a  nossa  terra  natal.  Além  do  mais,  outra  lei  israelense estipulava que os palestinos que não estivessem presentes em seus vilarejos ou cidades no momento da ocupação não teriam direito a cidadania israelense. 
  
O  registro  das  autoridades  israelenses  está  repleto  de  atos  de  terror  perpetuando sobre o nosso povo que continuou sob ocupação no Sinai e nas colinas de Golã. O bombardeio criminoso da escola Bahr-al-Bakar e da fábrica Abou Zaabal são apenas dois atos terroristas inesquecíveis. A total destruição da  cidade  síria  de  Kuneitra  é  ainda  outra  instância tangível  do  terrorismo sistemático.  Se  um  registro  do  terrorismo  sionista  no  Sul  do  Líbano  fosse documentado,  a  enormidade  de  seus  atos  iria  chocar  mesmo  os  mais endurecidos:  pirataria,  bombardeios,  táticas  de  terra  arrasada,  destruição de centenas de lares, despejos de civis e o sequestro de cidadãos libaneses. Isso constitui  claramente  uma  violação da  soberania  libanesa  e  a  sua  preparação  para o desvio das águas do rio Litani. 
  
É  necessário  que  a  Assembleia  se  lembre  das  numerosas  resoluções  adotadas  por  ela  condenando  as  agressões  israelenses  cometidas  contra os países  árabes,  as  violações  israelenses  de  direitos humanos  e  os  artigos  da Convenção  de  Genebra,  bem  como  as  resoluções  relativas  à  anexação da cidade de Jerusalém e a sua restauração à sua condição original. 
  
A única descrição para esses atos é a de que são atos de barbarismo e  terrorismo. E, ainda assim, os racistas sionistas e colonialistas têm a ousadia de descrever a luta justa do nosso povo como terror. Poderia haver distorção mais flagrante da verdade do que essa? Nós pedimos àqueles que usurparam a  nossa  terra,  que  estão  cometendo  atos  criminosos  de  terrorismo  contra  o nosso  povo  e  estão  praticando  discriminação  racial  mais  extensivamente do que os racistas da África do Sul, nós pedimos a eles que recordem a resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas que exigia que o governo sul-africano fosse suspenso por um ano das Nações Unidas. Tal é  o destino inevitável de todo  país  racista  que  adota  a  lei  da  selva,  usurpa  a  terra  natal  de  outros  e  persiste na opressão. 
  
Nos últimos 30 anos, o nosso povo tem tido que lutar contra a ocupação  britânica e a invasão sionista, as quais tinham uma intenção, isto é, usurpar a  nossa  terra.  Seis  grandes  revoltas  e  dezenas  de  levantes  populares  foram  encenados para frustrar essas tentativas, para que a nossa terra natal continue  nossa. Mais de 30 mil mártires, o equivalente a 6 milhões de estadunidenses em termos comparativos, morreram nesse processo. 
  
Quando a maioria do povo palestino foi arranhada de sua terra natal em 1948,  a  luta  palestina  pela  autodeterminação  continuou  sob  as  mais  difíceis condições. Nós tentamos todos os meios possíveis para continuar a nossa luta política  para  obter  os  nossos  direitos  nacionais,  mas  foi  tudo  inútil.  Nesse ínterim, tivemos que lutar pela pura existência. Mesmo no exílio nós educamos as nossas crianças. Isso tudo foi parte da tentativa de sobrevivência. 
  
O povo palestino produziu milhares de médicos, advogados, professores e cientistas que participam ativamente no desenvolvimento dos países árabes na fronteira da terra que lhes foi usurpada. Eles usam a sua renda para assistir aos  jovens  e  idosos  entre  aqueles  que  se  mantiverem em  campos  de refugiados. Eles educaram as suas irmãs e irmãos mais jovens, apoiaram seus pais e cuidaram de seus filhos. Todo esse tempo, os palestinos sonhavam em retornar. Nem a fidelidade dos palestinos à Palestina nem a sua determinação em retornar diminuíram, nada pode persuadi-los a abandonar a sua identidade palestina  ou  a  deixar  a  sua  terra  natal.  A  passagem do  tempo  não  os  fez esquecer, como alguns esperavam. Quando o povo perdeu a fé na comunidade internacional,  que  persistia  em  ignorar  os  seus  direitos,  e  quando  se  tornou óbvio que os palestinos não iriam recuperar um milímetro da Palestina através exclusivamente  de  meios  políticos,  o  nosso  povo  não teve  escolha  senão recorrer  à  luta  armada.  Nessa  luta  derramou  os  seus recursos  materiais  e  humanos.  Nós  enfrentamos  bravamente  os  atos  mais  vis  do  terrorismo  de  Israel que eram dirigidos para desviar a nossa luta e detê-la. Nos últimos anos  de nossa luta, milhares de mártires e de feridos, mutilados aprisionados foram oferecidos  em  sacrifício;  tudo  no  esforço  de  resistir  à  eminente  ameaça  de  eliminação,  para  recuperar  o  nosso  direito  à  autodeterminação  e  o  nosso  indiscutível direito de retornar à nossa terra natal. Com a maior dignidade e o  mais  admirável  espírito  revolucionário,  o  nosso  povo  palestino  não  perdeu  o  seu  espírito  nas  prisões  israelenses  e  campos  de  concentração  ou  quando  confrontados  com  todo  o  tipo  de  assédio  e  intimidação.  Luta  pela  existência  absoluta e continua a empenhar-se em preservar o caráter árabe de sua terra.  Assim,  resiste  a  opressões,  à  tirania  e  ao  terrorismo  em  suas  formas  mais  horrendas. 
  
É através da nossa luta popular armada que nossa liderança política e  as nossas instituições nacionais finalmente cristalizaram um movimento para a  libertação  nacional,  abrangendo  todas  as  facções  palestinas,  organizações  e  capacidades, materializadas na Organização para a Libertação da Palestina. 
  
Através da militância do movimento para a libertação nacional, a luta do  nosso povo amadureceu e cresceu o suficiente para acomodar a luta política e  social além da luta armada. A Organização para a Libertação da Palestina foi um fator importante na criação de um novo indivíduo palestino, qualificado para construir o futuro da nossa Palestina, e não satisfeito meramente em mobilizar  palestinos para os desafios do presente. 
  
A Organização para a Libertação da Palestina pode se orgulhar em ter  um  grande  numero  de  atividades  culturais  e  educação,  mesmo  quando  se encontrou  engajada  na  luta  armada,  em  um  momento  quando  enfrentou crescentes  e  ferozes  ataques  do  terrorismo  sionista.  Nós  estabelecemos institutos  para  pesquisa  científica,  desenvolvimento  agrícola  e  previdência social,  bem  como  centros  para  a  revitalização  da  nossa  herança cultural  e  a  preservação do nosso folclore. Muitos poetas palestinos, especialmente artistas  e escritores, enriquecem a cultura árabe e a cultura mundial em geral. Os seus trabalhos profundamente humanos têm ganhado a admiração de todos aqueles que  têm  familiaridade  com  eles.  Em  contraste,  o  nosso  inimigo  tem  sistematicamente destruído a nossa cultura disseminando ideologias racistas e  imperialistas, em resumo, tudo o que impede o progresso, justiça e paz. 
  
A  Organização  para  a  Libertação  da  Palestina  adquiriu  a  sua legitimidade devido ao sacrifício inerente do seu papel pioneiro e devido à sua  dedicada  liderança  da  luta.  Recebeu  também  essa  legitimidade  das  massas palestinas que, em harmonia com ela, escolheu liderar a luta segundo as suas diretivas. A Organização para a Libertação da Palestina também ganhou sua legitimação  representando  cada  facção,  sindicato  ou grupo,  bem  como  para  talento  palestino,  tanto  no  Conselho  Nacional  quanto  nas  instituições  para  o  povo. Essa legitimidade foi fortalecida pelo apoio  de toda a nação árabe, e foi consagrada  durante  a  última  Conferência  da  Cúpula  Árabe,  que  reiterava  o direito  da  Organização  para  a  Libertação  da  Palestina  em  sua  capacidade como única representante do povo palestino a estabelecer um estado nacional  independente em todo o território palestino liberado. 
  
Além  disso,  a  legitimidade  da  Organização  para  a  Libertação  da Palestina foi identificada como resultado do apoio  fraternal de movimentos, e por  nações  amigas  que  compartilham  as  mesmas  ideias e  que  ficaram  ao nosso lado, nos apoiando e auxiliando em nossa luta para garantir os nossos  direitos nacionais. 
  
Aqui  devo  também  calorosamente  transmitir  a  nossa  gratidão  dos  lutadores  revolucionários  e  do  nosso  povo  aos  países  não-alinhados,  aos  países  islâmicos,  aos  países  socialistas,  aos  países  africanos  e  aos  países  europeus  amigos,  bem  como  aos  nossos  amigos  na  Ásia,  África  e  América  Latina. 
  
A  Organização  para  a  Libertação  da  Palestina  representa  legítima  e  unicamente  o  povo  palestino.  Por  isso,  a  Organização  para  a Libertação  da Palestina expressa os desejos e esperanças de seu povo. Também por isso, traz esses desejos e esperanças diante de todos, exortando para que não se esquivem do momento histórico de responsabilidade de nossa causa justa. 
  
Por  muitos  anos,  o  nosso  povo  tem  sido  exposto  à  devastação  da  guerra, destruição e dispersão. Pagou com sangue de seus filhos o que não  pode nunca ser compensado. Sofreu o peso da ocupação, dispersão, despejo e terror mais ininterruptamente que nenhum outro povo. E mesmo assim, tudo  isso  não  tornou  o  nosso  povo  mais  retaliador  e  vingativo.  Nem  nos  levou  a  recorrer  ao  racismo  contra  os  nossos  inimigos.  Nem  perdemos  o  verdadeiro método de distinguir um amigo de um inimigo. 
  
Pois  deploramos  os  crimes  cometidos  contra  os  judeus  e  também  deploramos toda a discriminação real sofrida por eles devido à sua fé. 
  
Sou um rebelde e a liberdade é a minha causa. Bem sei que muitos dos  presentes aqui hoje se ergueram na mesma posição de resistência que ocupo hoje  e  de  onde  devo  lutar.  Um  dia  vocês  tiveram  que converter  sonhos  em  realidade em sua luta. Portanto, agora vocês devem compartilhar o meu sonho.  Penso que é exatamente por isso que posso pedir ajuda agora, para que juntos  possamos  tornar  o  nosso  sonho  em  uma  brilhante  realidade,  o  nosso  sonho  comum de um futuro de paz na terra sagrada da Palestina. 
  
Quando a mentira se ergueu na corte militar de Israel, o revolucionário  judeu, Ahud Adif disse: “Não sou terrorista; acredito que o estado democrático deveria existir nessa terra”. Adif agora debilita-se em uma prisão sionista entre os seus compatriotas. Para ele e seus colegas envio os meus melhores votos.  
  
Diante  do  mesmo  tribunal,  hoje  se  ergue  um  bravo  príncipe  da  igreja, bispo Capucci. Levantando os seus dedos para formar o mesmo sinal da vitória usado pelos nossos lutadores da liberdade, ele disse: “O que fiz, fiz para que todos os homens vivam nessa terra de paz em paz”. Esse padre magnífico irá sem  duvida  compartilhar  o  destino  implacável  de  Adif.  A  ele  mandamos saudações e cumprimentos. 
  
Por que, então, eu não deveria sonhar e esperar? Não é a revolução que  torna sonhos em realidade? Vamos trabalhar juntos para que o meu sonho seja realizado, que eu possa retornar com meu povo do exílio, lá na Palestina, para viver  com  judeus  que  lutam  pela  liberdade  e  seus  companheiros,  com  esse padre árabe e seus irmãos, em um estado democrático onde cristãos, judeus e  muçulmanos possam viver em justiça, fraternidade e progresso. 
  
Não é esse um sonho nobre que vale a minha luta juntamente com todos os que amam a liberdade em toda a parte? A dimensão mais admirável desse  sonho é o fato de que é palestino, um sonho de fora da terra da paz, da terra do martírio e heroísmo, e da terra da história também. 
  
Vamos  lembrar  que  os  judeus  da  Europa  e  dos  Estados  Unidos  são  conhecidos por liderarem lutas pelo secularismo e a separação da Igreja e o  Estado. Eles também lutaram contra discriminação religiosa. Como então eles continuam a apoiar a nação mais fanática, discriminatória e fechada de todas em suas políticas? 
  
Na  minha  capacidade  formal  como  dirigente  da  Organização  para  a  Libertação  da  Palestina  e  líder  da  revolução  palestina,  proclamo  diante  de todos que, quando falamos de nossas esperanças em comuns para a Palestina de amanhã, incluímos em nossa perspectiva todos os  judeus vivendo hoje na Palestina que escolheram viver conosco em paz e sem discriminação. 
  
Na  minha  capacidade  formal  como  líder  da  Organização  para  a  Libertação da Palestina e líder da revolução palestina conclamo os judeus a se afastarem um por um das promessas ilusórias feitas  pela ideologia sionista e pela  liderança  israelense.  Eles  estão  oferecendo  aos  judeus  uma  guerra interminável, perpetuamente sangrenta e uma escravidão contínua. 
  
Nós  os  convidamos  para  que  emerjam  de  seu  isolamento  de  seu isolamento  moral  para  um  território  de  livre  escolha,  muito  longe  dos  atuais esforços de implantar neles um complexo de Massada.
  
Nós  oferecemos  a eles  a  solução mais  generosa,  que possamos  viver  juntos em uma estrutura de paz justa na nossa Palestina democrática.  Na  minha  capacidade  formal  como  líder  da  Organização  para  a  Libertação da Palestina, anuncio aqui que não desejamos que nenhuma gota de  sangue  árabe  ou  judeu  seja  derramada;  nem  nos  deleitamos  com  a continuação  das  mortes,  que  iriam  terminar,  uma  vez que  uma  paz  justa,  baseada  nos  direitos,  esperanças  e  aspirações  do  nosso  povo  fossem  atingidas. 
  
Na  minha  capacidade  formal  como  líder  da  Organização  para  a  Libertação  da  Palestina  e  líder  da  revolução  palestina  apelo  a  vocês  a acompanharem  o  nosso  povo  em  sua  luta  para  obter  o  direito  à  autodeterminação. Esse direito está consagrado na carta das Nações Unidas e tem sido repetidamente confirmado nas resoluções adotadas por esse augusto corpo  desde  a  transcrição  da  Carta.  Eu  apelo  a  todos  que  auxiliem  o  nosso povo a retornar à sua terra natal de um exílio involuntário imposto através da força  das  armas,  da  tirania,  da  opressão,  para  que  possamos  recuperar  as  nossas propriedades, a nossa terra, para viver dali por diante em nossa terra  natal,  livres  e  soberanos,  gozando  todos  os  privilégios  da  nação.  Somente então poderemos derramar todos os nossos recursos na corrente da civilização  humana. Somente então a criatividade palestina poderá se concentrar a serviço  da  humanidade.  Somente  então  a  nossa  Jerusalém  irá  iniciar  o  seu  papel  histórico como um templo de paz de todas as religiões. 
  
Apelo  a  todos  vocês  que  permitam  que  nosso  povo  estabeleça soberania nacional independente sobre a sua própria terra. 
  
Hoje, eu venho portando um galho de oliva e uma arma dos lutadores pela liberdade. Não permitam que o galho de oliva caia de minha mão. Repito: não permitam que o galho de oliva caia de minha mão.

Foto de Yasser Arafat
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