Por Yasser Jamil Fayad.
Para o Jornal a Nova Democracia
Meu objetivo neste e nos textos que seguirão é discutir elementos para compor uma análise da derrota de Israel e do colonialismo judaico sionista na Palestina. A pretensão não é sistematizar uma análise coesa e acabada, mas, sim, abrir um leque de elementos cruciais para se estabelecer tal análise.
Uma das imagens mais marcantes deste “acordo de cessar-fogo”, iniciado no último dia 19 de Janeiro, a despeito da continuada ação israelense de limpeza étnica nos territórios ocupados (violando os termos do acordo supracitado), foi sem dúvida nenhuma a imagem dos guerreiros do HAMAS e de seus prisioneiros israelenses sendo trocados como previsto nas negociações, pois esta imagem condensa elementos poderosos da derrota israelense, a saber:
- O governo israelense produziu a imagem para sua população interna e para o mundo de que os guerrilheiros do HAMAS e de outras facções palestinas representariam o que de pior a humanidade produziu. Todos os comportamentos abjetos e ignóbeis foram projetados sobre as forças palestinas como, por exemplo, assassinatos de bebês, decapitações de crianças, estupros em massa, etc. Isso servia para o público interno de Israel acreditar que os prisioneiros já estariam mortos ou teriam sido vítimas de torturas indescritíveis. Contudo o que vimos foram prisioneiros israelenses com aparência saudável, alguns sorrindo e todos agradecendo pela forma com que foram tratados pelas forças guerrilheiras palestinas, contrariando definitivamente as expectativas do público interno de Israel, em especial, como também o mundial abastecido pela grande imprensa hegemônica.
- Ainda sobre a dinâmica interna de Israel, a promessa que se produziu deliberadamente pelo governo era de que a ação militar israelense sobre a Faixa de Gaza estava sendo eficaz e efetiva na eliminação do HAMAS e de outras facções palestinas. Alardeado como um dos objetivos centrais da ação militar, além do genocídio civil palestino como “retaliação”. A imagem esperada por este público era que, no cessar-fogo, surgiriam guerrilheiros maltrapilhos, famélicos, com aparência esquelética, em número reduzido e com restos de armas arcaicas. Contudo a imagem demonstrou o contrário: guerreiros com uniformes de aspecto novo, com armas reluzentes de aparência bem cuidadas e, pior para expectativa israelense, aparentemente o número de guerrilheiros era idêntico as demonstrações anteriores a outubro de 2023 – provavelmente, fruto também (mas não só) do recrutamento.
As imagens que discutimos acima, claramente, contrariam a versão produzida pela mídia israelense e internacional hegemônicas, mais do que isso, elas ajudam a criar mais fissuras em uma sociedade heterogênea, ligada fundamentalmente pelo projeto colonizador que se vê impotente onde antes se imaginava invencível. As ilusões de superioridade do colonizador judeu estão se desfazendo uma a uma, ante a luta do povo palestino.
